quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Anjo...

Em um dia, com muita luz me lembro bem, acordei um pouco atribulada,e depois de dar alguns passos com meus chinelos desgastados pelo corredor com pisos manchados tentei escrever em meu pequeno livro, meu diário, o único que tens me acompanhado em meio esses sofrimentos obscuros que passo.
Longas folhas e as letras muito pequenas, parecia alucinar aos olhos de quem estava perto, e me dopando com a substância que me faz mal, me leva ao fundo do poço, fechei os olhos bem apertados sem deixar as lágrimas cair, não poderia dar esse prazer a ela, não poderia deixá-las livre, pois eu não era.
Depois de muito soluçar e extremamente dopada e atordoada, levantei com passos rastejantes com a visão em sombras e com degradês acinzentados, fui a janela olhar o sol que não o via mais e no céu tentei com as mãos abrir as abas da minha janela e madeira para poder vê-lo, frustada cambaleando até a porta tentei abrí-la com os dedos desgastados, mas as trancas estavam firmes e não abriam estavam chumbadas ou soldadas e então percebi que somente sairia daquele lugar morta, corri pelo corredor ofegante e sem forças e cai ocamente no chão e o barulho ensurdecedor do meu corpo me fez gritar, somente um grito, mas o que eu poderia dar com toda a força que me restava, olhando a volta a janela, coberta pelas cortinas brancas sujas de sangue, sangue das antigas agulhas, sangue cuspido ou espirrado.
Longas horas e o heroí que costumava vir ao meu encontro e salvar-me de toda aquela vida e morte, não compareceu, mas uma luz fraca que foi se tornando forte e reluzente me cegando, parecia uma estrela ou quem sabe um deus ou um arcanjo, uma lanterna, um farol, um trem... Se aproximando devagar e com sua luz muito forte ele veio com sua graciosidade e fundos olhos azuis me levantou com mãos de dedos magros e só então tive forças e vontade de levantar para dar passos ao seu lado, sua voz doce e muito baixa me acalmava e me deixava em outro mundo e com palavras de apoio e compreensão me fez reviver e querer lutar contra aquele mal aquela substância, lutar contra o abandono de mim mesma e do abandono de meu heroi.
Caminhei até aminha penteadeira de madeira velha com espelho quebrado e então ele pegou o pente que eu mais gostava e penteou meu cabelo negro e descuidado, com seus dedos gelados supôs um sorrizo em meu rosto e que me fez sorrir naturalmente, e em questão de segundos um furacãopassou por aquela casa e as trancas se abriram, as janelas bateram bruscamente o sol se mostrou dentre as nuvens negras e o cheiro de alfazema fez se presente e então ele me deixou, foi embora dizendo em voz suave que em meus sonhos ele voltará...

Sonhos ruíns e sonhos bons, quero sonhar com ele, sonhos longos ou curtos, quero que esteja nele, sempre alí e me traga o bem e entre em meus pensamentos e sempre lembrarei do dia, dia negro em que cai no poço profundo e tu me trouxe a corda dourada a corda que me levou a borda, sem força e sem exitar me trouxe a paz,a leveza e tudo o que a substância maldita me levou... Chame a mim e eu irei, chore e eu secarei tuas lágrimas, sempre te apoiarei, por teu gesto doce que jamais imaginei poder me ajudar.
..... Anjo