Longas folhas e as letras muito pequenas, parecia alucinar aos olhos de quem estava perto, e me dopando com a substância que me faz mal, me leva ao fundo do poço, fechei os olhos bem apertados sem deixar as lágrimas cair, não poderia dar esse prazer a ela, não poderia deixá-las livre, pois eu não era.
Depois de muito soluçar e extremamente dopada e atordoada, levantei com passos rastejantes com a visão em sombras e com degradês acinzentados, fui a janela olhar o sol que não o via mais e no céu tentei com as mãos abrir as abas da minha janela e madeira para poder vê-lo, frustada cambaleando até a porta tentei abrí-la com os dedos desgastados, mas as trancas estavam firmes e não abriam estavam chumbadas ou soldadas e então percebi que somente sairia daquele lugar morta, corri pelo corredor ofegante e sem forças e cai ocamente no chão e o barulho ensurdecedor do meu corpo me fez gritar, somente um grito, mas o que eu poderia dar com toda a força que me restava, olhando a volta a janela, coberta pelas cortinas brancas sujas de sangue, sangue das antigas agulhas, sangue cuspido ou espirrado.
Longas horas e o heroí que costumava vir ao meu encontro e salvar-me de toda aquela vida e morte, não compareceu, mas uma luz fraca que foi se tornando forte e reluzente me cegando, parecia uma estrela ou quem sabe um deus ou um arcanjo, uma lanterna, um farol, um trem... Se aproximando devagar e com sua luz muito forte ele veio com sua graciosidade e fundos olhos azuis me levantou com mãos de dedos magros e só então tive forças e vontade de levantar para dar passos ao seu lado, sua voz doce e muito baixa me acalmava e me deixava em outro mundo e com palavras de apoio e compreensão me fez reviver e querer lutar contra aquele mal aquela substância, lutar contra o abandono de mim mesma e do abandono de meu heroi.
Caminhei até aminha penteadeira de madeira velha com espelho quebrado e então ele pegou o pente que eu mais gostava e penteou meu cabelo negro e descuidado, com seus dedos gelados supôs um sorrizo em meu rosto e que me fez sorrir naturalmente, e em questão de segundos um furacãopassou por aquela casa e as trancas se abriram, as janelas bateram bruscamente o sol se mostrou dentre as nuvens negras e o cheiro de alfazema fez se presente e então ele me deixou, foi embora dizendo em voz suave que em meus sonhos ele voltará...
Sonhos ruíns e sonhos bons, quero sonhar com ele, sonhos longos ou curtos, quero que esteja nele, sempre alí e me traga o bem e entre em meus pensamentos e sempre lembrarei do dia, dia negro em que cai no poço profundo e tu me trouxe a corda dourada a corda que me levou a borda, sem força e sem exitar me trouxe a paz,a leveza e tudo o que a substância maldita me levou... Chame a mim e eu irei, chore e eu secarei tuas lágrimas, sempre te apoiarei, por teu gesto doce que jamais imaginei poder me ajudar.
..... Anjo